quinta-feira, julho 14, 2011

VERDURA INDIE


E eis que na noite de karaokê indie, dançando Ramones na pista 02, rodeada de crianças de no máximo vinte anos de vida que me olham achando que estou dançando uma música da minha época, me cutuca um menino.

Dois terços da minha idade assim como dois terços do meu tamanho. Acima do peso, aparelho nos dentes.

- Posso falar com você?

(hey, ho let´s GO, hey ho, let´s GO, hey ho let´s GO…)

- Pode

(… e emenda em shot through the heart and you're to blame… you give love…)

- Qual seu nome?

- Barbara

(… a bad name)

- Oi? Não te ouvi, a música é alta...

E aproxima o ouvido bem próximo à minha boca, quase nas pontas dos pés. Pega na minha cintura

(Bon Jovi bombando, os jovens loucos. Que tipo de DJ emenda Ramones em Bon Jovi?? Isso é meio estranho ou realmente sou eu que estou ficando velha?)

- BAR-BA-RA

Me afasto. Ele se aproxima. Ponta dos dedos, ou quase.

- Prazer, o meu é.....

Não ouço mas finjo que.

(Whoa, you're a loaded gun, yeah whoa, there's nowhere to run)

- Ah, prazer!

Ele ri

- Você na realidade não ouviu meu nome…

Eu, pega na mentira.

- Err... não...

- Alface

-Hum... ok...

Ele se surpreende.

- Não acha estranho?

- Seu apelido?

Monique e Bernardo a essa altura gargalham da minha cara, sem pudor nenhum, e me dá uma vontade danada de rir também.

Envelhecemos e perdemos as vergonhas.

(Bon Jovi nem importa mais muito. A DJ atrás da cabine usa batom vermelho e tem pouco mais de dezoito)

- Esse é meu nome de verdade, mas também tenho um apelido... quer saber?

Nessa hora me entrego ao riso. Gargalho e ele continua. Coloca sua boca bem próxima ao meu ouvido, pega de novo na minha cintura.

- Facinho

Alface olha pra mim e me sorri o sorriso mais metálico do mundo.

Explodo.

- Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!!!!!!

Eu olho pra ele, lágrimas de tanto rir, e de repente me encho de afeto. Queria abraçá-lo e falar que assim ele vai longe. Que ele merece uma menina da idade dele muito legal. Que ele é o cara. Levantar a mão para o alto e oferecer um “Give me Five...!”

Ele pode interpretar mal.

Me recomponho e tiro meu maço do bolso.

- Desculpe mas não suporto Bon Jovi e preciso de um cigarro.

Saio. Ele me olha com olhar de cachorro abandonado para depois sorrir.

O sorriso mais metálico do mundo. Facinho.

Barbara Kahane

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