quinta-feira, março 10, 2011

sob a proteção da arma melancolia


Andava pela Carioca, em direção ao metrô. Isso foi hoje mais cedo. Coisa de quatro horas, quatro horas e meia. Da tarde.

Meus pensamentos insistiam, como andam insistindo nesses dias de folia e de ressaca , em pairar pelas regiões mais nebulosas da minha alma ou do meu cerébro (não sei na realidade direito por onde eles costumam rondar... se são pensamentos deveriam ser no cerébro, mas às vezes parece que eles pisoteiam é a alma...). Mas enfim, seja em qual lugar for desses pensamentos pairarem, era na faixa nebulosa que todos temos e tentamos rotineiramente fugir, que eles passeavam.

Andava distraída assim.

Um menino de rua, metade do meu tamanho, segurando uma caixa de chicletes vazia cruza meu caminho.

Oferta a mercadoria.

Faço que não com a cabeça. Olhos marejados por trás dos grandes óculos escuros comprados na liquidação de uma magazine mirando o chão. Olhando para onde piso, mas não enxergando muito mais nada além da faixa nebulosa dentro da minha cabeça ou da minha alma... sabe, isso nem vêm ao caso para a história, na realidade.

O menino de rua assovia. Três outros meninos me cercam. Eles não carregam caixa de nada nas mãos. Eles me cercam e não sinto medo. Não sinto muito lá coisa alguma. Tenho 50 reais na carteira que iriam ser gastos para alguma coisa qualquer irrelevante para o futuro do planeta. Continuo andando olhando para o chão.

Eles me cercam e um deles ameaça me empurrar. O outro pára bem na minha frente. Todos com metade do meu tamanho. São muito pequenos, dado que tenho pouco mais que metro e meio de altura.

O outro pára bem na minha frente e como estou olhando para o chão e minha cabeça está na direção para baixo, é bem pouco o esforço de olhá-lo no olho. Na verdade isso meio que acontece sem querer até.

Eu olho o menino sem caixa nenhuma na mão e metade do meu tamanho nos olhos e ele olha nos meus. Ele vê por trás da lente e pára.

Daí se dirige para o grupo:

"O seus mané, vamos deixar a tia em paz. Cês não viu que ela tá triste?"

Eles se dispersam e ganham a Carioca. Eu entro no metrô rumo ao Largo do Bruxo. Os 50 reais da minha carteira continuarão sendo gastos com alguma coisa bastante irrelevante. E a faixa nebulosa me joga na cara que ao menos ela serve como boa proteção.


Barbara Kahane

Um comentário:

renato laclette disse...

Legal Bárbara. Vem cá você não tem um e-mail. O meu é renato.laclette@gmail.com. Me manda o seu. Abçs Renato.