Tema tema tema texto nada nada nada.
É bom brincar de apertar com os dedos esses botõezinhos e ver na tela as palavras se formando. Vejo as letras virarem palavras sucessivamente na tela do meu computador. É incrível. É mágico, apesar de ainda sem muito porquê.
E por que acordei tão urgente hoje?
Concordei, entre um chope e outro, que escrever seria uma ótima idéia e prometi alguma coisa do meus documentos para dar o start. Mas ao reler o que as pastas me guardavam tive vontade alucinada de jogar tudo na lixeira. Literalmente, da maneira mais real, deixando o computador na rua para a Comlurb levar. Fui demovida da idéia ao vislumbrar a possibilidade de perder minha paciência spider que mantém o tempo ocupado casando copas e espadas.
Escreva qualquer coisa que qualquer coisa será melhor do que aquilo que você viu que não deveria nunca ter nem existido e você prometeu.
Você Prometeu.
Queria ter a delicadeza do paulo mendes campos que li no leblon recostada à cama de A. enquanto os meninos eram anilina anilina john john. Isso antes de chegarmos ao tio sam, isso antes dos ponteiros do relógio anunciarem que já é hoje, isso antes de S. não ter mais a idade de cristo na cruz e na mistura do claro-escuro chope ir de plutão a hitler e franz ferdinand. Isso antes da promessa.
Com a delicadeza de paulo mendes campos seria mais fácil.
Voltando à mesa do tio sam e ao papo, que a essa altura descambou pra busca do tempo perdido: garçom, mais algumas linha na pressão, por favor.
TRÊS MOVIMENTOS DA MEMÓRIA ALEATÓRIA E PLENAMENTE AFETIVA DE B.K.
Movimento Hum:
Lá de cima podíamos ver alguns rostos conhecidos e uma multidão de foliões anônimos. Entre os rostos conhecidos estava P. com a cabeça cheia de cachaça. Já havíamos nos cruzado naquele dia e prometido passar a noite brincando juntos, nas folias da cidade. Mas o fluxo louco das fantasias em meio ao bloco nos separou na primeira hora de festa na rua, quando o sol batia a pino no cocuruto de nossas cabeças ainda sóbrias.
Avisei M. que iria resgatar P. para irmos a outro bairro qualquer em busca de frescor. Ali todas as serpentinas já estavam enlameadas nos pés e não havia mais batuque. No nosso campo de visão, dispersão e conversas embaladas aos restos de cerveja quente das latinhas.
Deixei M. sambando ao zumbido bêbado dos burburinhos cruzados e pulei da mesa, para senhores jogarem dominós nas tardes frescas, ao encontro de P. que conversava numa roda de pessoas que eu não (S.) ou mal (A.) conhecia.
Isso já faz três anos, talvez já faça quatro anos. Entre 2000 e 2003 eu me perdi, e conforme passam os anos, menos me encontro. Quase lembranças de três anos em um.
Desse dia, ver P. lá embaixo conversando do alto de uma mesa de praça é tudo o que me resta na memória. Não me lembro de mais nada. Nem de antes, nem de depois. Mas estranhamente procurando um tema, um assunto, uma motivação pra justificar essas linhas. me veio esse momento, esse fragmento de um carnaval.
A ironia do acaso, ou o acaso da ironia, me faz escrever agora. O estranho de ontem é com quem eu faço planos hoje. Talvez o rapaz que em certo momento adentrou o tio sam apenas em busca de cigarros seja o pai dos meus filhos, ou meu maior inimigo, ou os dois e, amanhã, num esforço de escrever esse chope com A. e S. me venha apenas o momento
Já existiu um carnaval
Movimento Dois
Perdi o prazo.
CARTELA: Um sábado e domingo depois.
Há três dias o movimento dois era pra ser uma história sobre meu pai.
Quer dizer, uma história não. Mas era minha intenção resgatar mais um desses momentos que por nenhuma razão lógica estacionam no pensamento, às vezes até atropelando.
Há três dias era um pequeno fato sobre um dia em que eu ouvia musica e meu pai disse... bem, não é mais sobre isso que eu preciso escrever agora.
Perdi o prazo e vivi.
Ontem, por exemplo, M. me lembrou que quando conhecemos P., há sete anos, o odiamos.
P. parecia mesmo odioso. Antipático, Machista, Patético, Mentiroso. Essa foi a primeira impressão. Muito pouco tempo depois, talvez horas, talvez dias, percebemos que ele era só mentiroso e que o resto era apenas farsa. É engraçado porque hoje eu vejo que P. não tem tino pra fingimentos. Não consigo entender como, mesmo por pouco ou pouquíssimo tempo, ele conseguiu enganar e irritar tanto a mim e a M.
Hoje P. é pai. A menina caçula tem nem mês. Hoje sei que P. é incrível. Esse leonard cohen que escuto enquanto tento organizar essas linhas foi presente de P. Esse leonard cohen me faz lembrar tantas outras coisas como F. e M.J. entoando so long marianne pelas ruas do centro em 1998. Esse leonard cohen me faz lembrar muitos dias de solidão em 99 ou 2000 ou 2001 ou 2002 ou 2003... daí em 2004 esse leonard cohen me faz lembrar uma festinha na gávea
Movimento Três
Em suspenso.
Às vezes tudo se encaixa.
O prazo já foi pro caralho mas eu persisto. Não sei precisar quanto tempo se passou pois não sei quantos dias ainda passarei insistindo em apagar ou digitar vírgulas.
A lembrança de M.J me faz colocar em um repeat incessante wouldn´t you miss me. Essa é outra de 98 e que dias desses surrupiei da casa de D. e F. No encarte do cd diz que barrett a gravou em 26 july 1969. Para onde foram esses quase quarenta anos, meu deus? Quando M.J. a cantava nas nossas andanças pelo centro, ela nem tinha chegado aos trinta. Para onde foram esses dez anos, meu deus?
2006, três dias depois. O tempo continua correndo. Falei que iria postar essas palavras há coisa de semana e elas continuam aqui, somente para minha leitura e compulsão em ficar trocando as letrinhas do lugar para ver se o significado muda.
Existem impossibilidades para o terceiro movimento.
Se eu tivesse letras invisíveis exprimiria em palavras invisíveis o constrangimento, o susto e tudo, tudo, tudo, tudo, tudo que foi inadvertidamente lembrado quando D. no final da noite, num boteco em copa, doze horas depois do som da primeira latinha sendo aberta, já desembalando o nosso terceiro maço, deu com a língua nos dentes.
Isso até daria um bom relato mas.............................................................................................. ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ .
No rodapé da folha do word abre a janela windows media player acusando a mudança de faixa. hey, that´s no way to say goodbye.
Bárbara Kahane
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